sábado, 7 de novembro de 2009

Um dia a casa cai


Segunda-feira, dois de novembro. Cinco dias antes do início das filmagens do meu roteiro. Última reunião da nossa equipe com as coordenadoras de produção. Nossa produtora está tendo problemas para realizar seu trabalho. A coordenadora começa com as perguntas:
- Tudo certo com a locação?
- Na verdade, mais ou menos.
- Que horas vocês podem entrar para filmar?
- Então, meio que depende, preciso checar ainda.
- Como assim?
- Tipo, sábado e domingo a gente só pode usar o interior da casa em algumas partes do dia. O resto a gente tem que filmar do lado de fora.
- Mas metade do roteiro se passa dentro da casa. Na segunda e terça você tem acesso ilimitado ao interior da casa, pelo menos?
- Hum… sim, até às 16h.
O diretor quer matá-la. Ninguém até o momento havia sido informado sobre esses pequenos detalhes. É evidente que não será possível filmar quinze páginas em um cronograma tão limitado.
A essa altura a casa na árvore do roteiro já foi modificada - ainda é uma casa na árvore, mas está sendo construída no chão. O ator que deveria ter 70 anos tem 52. O que deveria ter 28 parece 41. Perguntam se estou satisfeito com elenco. “E eu lá tenho opção?”
 - Banheiros. A equipe terá acesso aos banheiros da casa?
- Sim.
- Você tem certeza que 25 pessoas podem entrar e sair da casa a qualquer momento para usar o banheiro?
- Hum… não exatamente… Temos que ver um esquema, um horário.
- Ah, então quer dizer que as pessoas têm que marcar hora pra ir ao banheiro?
- Eu posso alugar um banheiro químico.
- Você incluiu isso no orçamento, que alias já está 500 dólares acima do previsto?
- Hum… não.
Mal sabíamos que na mesma noite perderíamos não apenas a já problemática locação, mas também a figurinista e o assistente de arte – que atende pelo nome de Fluido.
Começa a saga atrás de uma nova locação. Temos dois dias para fazer algo que deveria ter sido feito em dois meses.
Só conseguimos fechar nossa locação na quinta-feira. Diretor e diretor de fotografia desaparecem de todas as aulas para poder adaptar os set-ups à nova locação. O roteiro precisa sofrer alterações pelo mesmo motivo.
E qual a maior preocupação da produtora? Que cada um no set tenha sua garrafa d’água para não usarmos garrafinhas descartáveis…