Desde pequeno eu sempre adorei matemática. Perceber o mundo em números,
com uma lógica clara, com certos e errados definidos, sempre me fascinou. Na sétima série, tive um professor (casado com
a professora de Língua Portuguesa, já fazendo um prenúncio da minha vida
futura...) que brincava com a turma ao ensinar planos cartesianos, dizendo ser
aquele seu momento favorito: o momento pornográfico.
Brincar com a matemática também fazia parte do meu dia a dia, mas
conforme fui migrando para o mundo das palavras, os números foram virando
coadjuvantes, meras casas decimais a serem arredondadas.
Um mês antes de me mudar para Los Angeles, em 2009, comecei a registrar
com papel e caneta meus pensamentos, aspirações, medos e tudo aquilo que
preenchia minha cabeça prestes a embarcar em uma nova aventura. Poucos meses
depois, quando os registros revelavam uma adaptação difícil à nova realidade, recorri
aos números para avaliar cada um desses registros diários, buscando uma lógica,
um sentido, uma progressão; buscando transformar o caos da vida em uma ciência
exata, em uma curva ascendente que me provasse que cada dia era melhor que o
anterior e me fizesse conseguir aproveitar aqueles que deveriam ser os melhores
dois anos da minha vida. E foram.
Em 2011, voltei ao Brasil com uma missão: ter anos tão incríveis quanto
aqueles nos EUA. Com todas as parciais anotadas, tinha um recorde a bater. Mas
como superar anos com tantos eventos extraordinários? Com tantas viagens,
tantos novos amigos, tantas novas experiências?
Os anos seguintes teriam seus altos e baixos, e, embora minha memória
ainda lembrasse os anos nos EUA como os melhores em muito tempo, a matemática dizia
o contrário. Fiz como meu professor de Matemática e usei o método pornográfico
para entender, com a ajuda dos números que tanto me fascinam, os anos que as
palavras registraram com tanto detalhe.
Cheguei a 2015 com um 2014 mediano nas costas, cheio de picos e vales,
e sem grandes expectativas. Trabalhei mais. Viajei menos. Descansei menos ainda.
Somem-se a isso dois assaltos, instabilidade profissional e a perda de um ente
querido: 2015 tinha tudo para entrar para história como um ano esquecível. Até
que a matemática provou que o ano não apenas tinha sido bom: tinha sido o
melhor.
Como um ano aparentemente tão trivial poderia ter sido tão incrível? Como
minha memória poderia me enganar tanto?
Mas os números não me enganam. Olhei para trás e tentei deduzir a
fórmula, reduzir a fração, chegar a um denominador comum. E concluí que a chave
estava justamente ali: no olhar.
Notei que em 2015 olhei menos para fora e mais para dentro. Olhei mais
para os picos do que para os vales. Não olhei com raiva. Olhei com gratidão.
Olhei com desapego. Olhei com as lentes que escolhi olhar.
E ao buscar algo para justificar um ano surpreendentemente bom, não
descobri nada extraordinário. Descobri que extraordinário é viver. É só olhar
direito.