Hoje minha avó faz 100 anos.
Cem. Anos.
Paremos aqui um instante. Ter 100 anos significa ter nascido antes de existirem Copas
do Mundo. Antes de inventarem a televisão. Antes de existirem voos comerciais.
Significa ter vivido as duas Guerras Mundiais.
Acompanhado vinte e duas Olimpíadas.
Visto nove Papas.
Significa também que TODAS as pessoas mais velhas que conheceu
já não vivem mais...
Conhecer alguém com cem anos também incita à inevitável
pergunta: qual o segredo?
Minha avó nasceu na Itália e provavelmente teria sido
freira, não tivesse conhecido meu avô e vindo para o Brasil – em uma época em
que dizer adeus significava, mesmo, dizer adeus.
Assim, desafiando todas as expectativas de quem observa a
pequena senhorinha na missa das sete, minha avó viria a ser uma das pessoas
mais ousadas que já conheci.
Teve um marido, quatro filhas, dez netos e onze bisnetos. Insistiu
em morar sozinha dos 66 aos 96 anos, nunca teve um celular e dizia sem pudor quando não gostava de um presente. Quer ousadia
maior?
Recentemente sua mente deixou de acompanhar seu espírito e sua
lucidez começou a se esvair, mas não sem antes termos esta conversa,
supostamente trivial:
- Tá tudo bem com você?
- Tudo sim, Nonna.
- Tá gostando do trabalho?
- Tô sim.
- Porque se não estiver, vai pro próximo! Só não fica parado.
Não tá bom? Segue em frente!
- Pode deixar, Nonninha.
- Sabe, eu posso te dizer: eu fiz tudo o que queria na vida...
Não me arrependo de nada!
Demorei alguns instantes para absorver a magnitude da
afirmação.
Se já são pouquíssimos os centenários no mundo, o que dizer
dos que vivem um século podendo dizer o mesmo?
E então me pareceu claro que o segredo para viver mais tempo
é simplesmente viver mais.
Nonninha intrigada com meu iPhone. |