Em novembro de 2011,
publiquei um texto sobre um projeto social desenvolvido em Los Angeles, onde
dez crianças, acompanhadas individualmente por dez voluntários, encontram-se durante
várias semanas para escrever um pequeno roteiro a ser encenado por
atores aos familiares das crianças e a seus colegas de classe.
Em agosto deste ano, a
ONG Sonhar Acordado deu início ao projeto Contando Sonhos: uma versão brasileira
– e turbinada – do projeto americano. No último dia 30, sua primeira edição
chegou ao fim, com uma apresentação inesquecível de 11 atores sensacionais, para uma plateia
de 200 pessoas que extravasavam empolgação. Mal sabia eu que uma semente plantada há mais de dois anos renderia uma das tardes mais incríveis da minha vida; seria a fonte dos mais
intensos abraços que já recebi.
Mas a verdade é
que esses abraços estão longe de serem só meus. Porque, convenhamos, para que o
projeto viajasse dez mil quilômetros de Los Angeles a São Paulo e aterrissasse
com sucesso, foi preciso muito mais do que a vontade de um mero mortal.
Foi preciso, antes de
mais nada, alguém que acreditasse no poder transformador de contar histórias e
estivesse disposto a arriscar recursos com uma iniciativa ainda incerta. Esse
alguém foi o Diretor da Filial de São Paulo do Sonhar Acordado, Bruno Velleca.
Mas Brunão não disse:
“Sim, vai fundo!”. Ele disse: “Sim, vamos juntos!” Com isso, Contando Sonhos
ganhou não só um nome e uma casa, mas ganhou raízes. Ganhou pessoas. Pessoas
como Hugo Teixeira: uma fonte inesgotável de amor e energia, que ilumina
qualquer ambiente. Pessoas como as crianças do Colégio Mão Amiga, que lavam as mãos
antes de comer, que cumprimentam os visitantes em pé e
que, aos dez anos de idade, comprometeram cinco dos seus preciosos sábados com atividades escolares.
E pessoas como os dez voluntários-sonhadores-contadores, que mergulharam de
cabeça no projeto, sem saber quão funda era a piscina.
Foram os valores trazidos
pelo Sonhar Acordado que fizeram o Contando Sonhos caminhar firme pelos últimos
quatro meses. Foi preciso PACIÊNCIA para enfrentar horas de trânsito em pleno
sábado – na ida e na volta! Foi preciso CONSTÂNCIA para abdicar de amigos e
família e estar pronto para dedicar-se às crianças às 9h da manhã por cinco
sábados. Foi preciso PERSEVERANÇA para sentar com uma criança agitada após o
almoço, enfrentar o calor e fazê-la focar por horas em uma atividade que
requer um software que nem você mesmo sabe bem usar. E acima de tudo, foi
preciso ESPERANÇA para acreditar que aquilo tudo daria resultado.
E deu.
No aguardado dia do
grande show de encerramento, o espírito de equipe do Sonhar Acordado nunca
esteve tão presente. Você pergunta: “Cesinha, como faço para reservar um ônibus?”
e, horas depois, tem um ônibus reservado, o horário marcado e o telefone do motorista
em mãos. Você diz: “Richard, vou te copiar nos e-mails, tudo bem?” e, quando
nota, todos os assuntos do e-mail estão resolvidos antes mesmo de ele ser
enviado.
Precisa desenhar uma faixa? "Eu faço!” Precisa desenhar um programa? "Eu faço!” Alguém te liga e
pergunta: “Uma amiga tem alguns Oscars em casa, você quer?” (Quem tem Oscars em
casa!?) Outro alguém sorri: “Comprei rosas pra vocês, posso entregar?”
Surge uma equipe de
seguranças devidamente vestidos e identificados, que acompanham as crianças a
cada passo. Surge um exército para montar sanduíches, organizar bebidas, e em
minutos uma sala de aula se transforma em um lounge com música ambiente e um time de animação para os convidados. Uma equipe de imprensa se estrutura em
segundos: fotógrafos, jornalistas, câmeras... Meu Deus, de onde surgiu tanta
gente?
Acreditando no lema “toda
criança tem algo dizer, toda criança merece ser ouvida”, naquela tarde chuvosa
de sábado, o amor e a dedicação de dezenas e dezenas de voluntários tornaram possível criar um dia inesquecível
na vida daquelas estrelas-mirins.
E a julgar pelos
sorrisos, a missão foi cumprida.
"Nós podemos mudar o mundo e torná-lo um lugar melhor. Está em suas mãos fazer a diferença." - Nelson Mandela