sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Abraços repartidos

Em novembro de 2011, publiquei um texto sobre um projeto social desenvolvido em Los Angeles, onde dez crianças, acompanhadas individualmente por dez voluntários, encontram-se durante várias semanas para escrever um pequeno roteiro a ser encenado por atores aos familiares das crianças e a seus colegas de classe.

Em agosto deste ano, a ONG Sonhar Acordado deu início ao projeto Contando Sonhos: uma versão brasileira – e turbinada – do projeto americano. No último dia 30, sua primeira edição chegou ao fim, com uma apresentação inesquecível de 11 atores sensacionais, para uma plateia de 200 pessoas que extravasavam empolgação. Mal sabia eu que uma semente plantada há mais de dois anos renderia uma das tardes mais incríveis da minha vida; seria a fonte dos mais intensos abraços que já recebi.

Mas a verdade é que esses abraços estão longe de serem só meus. Porque, convenhamos, para que o projeto viajasse dez mil quilômetros de Los Angeles a São Paulo e aterrissasse com sucesso, foi preciso muito mais do que a vontade de um mero mortal.

Foi preciso, antes de mais nada, alguém que acreditasse no poder transformador de contar histórias e estivesse disposto a arriscar recursos com uma iniciativa ainda incerta. Esse alguém foi o Diretor da Filial de São Paulo do Sonhar Acordado, Bruno Velleca.

Mas Brunão não disse: “Sim, vai fundo!”. Ele disse: “Sim, vamos juntos!” Com isso, Contando Sonhos ganhou não só um nome e uma casa, mas ganhou raízes. Ganhou pessoas. Pessoas como Hugo Teixeira: uma fonte inesgotável de amor e energia, que ilumina qualquer ambiente. Pessoas como as crianças do Colégio Mão Amiga, que lavam as mãos antes de comer, que cumprimentam os visitantes em pé e que, aos dez anos de idade, comprometeram cinco dos seus preciosos sábados com atividades escolares. E pessoas como os dez voluntários-sonhadores-contadores, que mergulharam de cabeça no projeto, sem saber quão funda era a piscina.

Foram os valores trazidos pelo Sonhar Acordado que fizeram o Contando Sonhos caminhar firme pelos últimos quatro meses. Foi preciso PACIÊNCIA para enfrentar horas de trânsito em pleno sábado – na ida e na volta! Foi preciso CONSTÂNCIA para abdicar de amigos e família e estar pronto para dedicar-se às crianças às 9h da manhã por cinco sábados. Foi preciso PERSEVERANÇA para sentar com uma criança agitada após o almoço, enfrentar o calor e fazê-la focar por horas em uma atividade que requer um software que nem você mesmo sabe bem usar. E acima de tudo, foi preciso ESPERANÇA para acreditar que aquilo tudo daria resultado.

E deu.

No aguardado dia do grande show de encerramento, o espírito de equipe do Sonhar Acordado nunca esteve tão presente. Você pergunta: “Cesinha, como faço para reservar um ônibus?” e, horas depois, tem um ônibus reservado, o horário marcado e o telefone do motorista em mãos. Você diz: “Richard, vou te copiar nos e-mails, tudo bem?” e, quando nota, todos os assuntos do e-mail estão resolvidos antes mesmo de ele ser enviado. 

Precisa desenhar uma faixa? "Eu faço!” Precisa desenhar um programa? "Eu faço!” Alguém te liga e pergunta: “Uma amiga tem alguns Oscars em casa, você quer?” (Quem tem Oscars em casa!?) Outro alguém sorri: “Comprei rosas pra vocês, posso entregar?”

Surge uma equipe de seguranças devidamente vestidos e identificados, que acompanham as crianças a cada passo. Surge um exército para montar sanduíches, organizar bebidas, e em minutos uma sala de aula se transforma em um lounge com música ambiente e um time de animação para os convidados. Uma equipe de imprensa se estrutura em segundos: fotógrafos, jornalistas, câmeras... Meu Deus, de onde surgiu tanta gente?

Acreditando no lema “toda criança tem algo dizer, toda criança merece ser ouvida”, naquela tarde chuvosa de sábado, o amor e a dedicação de dezenas e dezenas de voluntários tornaram possível criar um dia inesquecível na vida daquelas estrelas-mirins.

E a julgar pelos sorrisos, a missão foi cumprida.



"Nós podemos mudar o mundo e torná-lo um lugar melhor. Está em suas mãos fazer a diferença." - Nelson Mandela