Outro dia
tive que fazer uma ressonância.
Não sou do
tipo que tem problemas para ir ao médico, fazer exames ou ir a hospitais.
Sempre concordei com uma amiga que diz: “hospital é onde você vai pra se
curar”. Com esse
espírito, cheguei ao laboratório preparado para entrar no tubo barulhento e
descobrir o que é que faz minha coluna doer.
Na recepção,
respondo a perguntas do tipo: “Você já levou um tiro?”, “Tem algum projétil
alocado no corpo?”, “Você usa prótese peniana?”. Assinalo “ainda não” em todas as
perguntas, descrevo os remédios que estou tomando e sigo para a sala de exames. A enfermeira
olha a minha ficha:
- Dor na
coluna, né? Já tá tomando antiinflamório...
- Não, não.
– interrompo.
- Ué, tá
aqui: minoxidil.
- Minoxidil
é um remédio pra queda de cabelo.
- Ah... Bom,
pode deixar suas roupas ali no armário e se trocar naquela sala.
De
camisolinha e bunda de fora, volto para a sala de exames. Ela pede para que eu me deite e aguarde. Minutos
depois, ouço alguém vomitando nas proximidades. A enfermeira tenta uma
conversa:
- Você tá
bem? Fala comigo. O que o senhor tá sentindo?
[grunhidos]
A enfermeira
volta para a sala onde estou, prepara uma seringa e sai novamente. A pergunta se
repete. O grunhido se repete. Ela volta para preparar mais uma seringa.
- Vem cá, eu
vou ter que tomar contraste? – pergunto.
- Ah, não...
Mas isso não é por causa do contraste. É que ele tá em jejum.
Ela parte.
“Mas eu também estou de jejum, porque me MANDARAM estar em jejum” – penso.
Antes de
sair, ela solta um animador:
- Pode
relaxar porque ainda vai demorar um pouquinho...
Uma médica
passa pela minha sala.
- Você está
em jejum?
- Sim.
- Há quanto
tempo?
- Umas seis
horas.
- Seis!?
Ela parte,
chocada. Ouço-a comentar com outro enfermeiro:
- Leva umas
bolachinhas pro outro paciente que ela tá há seis horas sem comer.
O enfermeiro
entra com um Toddyinho e uma bolacha de água e sal.
- Mas eu não
tinha que estar em jejum?
- Só se for
tomar contraste, mas você não precisa.
E não podiam
ter avisado antes?
O paciente
moribundo é trazido para a sala ao lado. A médica insiste:
- Antonio,
fala comigo. Como você tá se sentindo? Tá melhorando?
[grunhidos]
- Não tô
entendendo. O enjoo passou, Antonio?
- Marcos...
- Hein?
- Meu nome é
Marcos...
- Ah, perdão.
Tá melhor, Marcos?
- Não
consigo respirar...
A enfermeira
decide, enfim, chamar uma ambulância:
- Boa noite.
Temos um paciente aqui que fez uma ressonância e está passando mal. Parece ter
febre, sudorese fria, dificuldade para respirar... Idade? 70. Não, espera! Ah,
ele nasceu em 70... Ele tem 33. Não! 43.
Com a ambulância
a caminho, o enfermeiro volta à minha sala.
- Só vou
terminar de limpar o aparelho e já te levo.
Ele sai e conversa com a médica.
- Já vou
levando ele lá e posicionando no aparelho, tá?
- Mas você
sabe o que tem que fazer?
- Ué, não é
só empurrar a maca?
A essa
altura, toda minha tranquilidade já foi pro espaço e a confiança no serviço
médico foi substituída pela certeza da morte iminente.
O enfermeiro
volta.
- Vamos lá?
Será que eu preciso mesmo saber porque minhas costas doem?
- Me diz uma
coisa, quanto tempo demora o exame?
- Uns 40
minutos.
- Quarenta!?
- É que são
dois exames, né?
Resignado,
sou levado para a sala recém-higienizada. Ele coloca a maca na posição, me
indica o botão do pânico e, em poucos segundos, estou dentro de um tubo que
passa a 20 centímetros da minha cara.
- Então se
eu entrar em pânico é só apertar aqui?
...
Ele já foi.
Entro em
pânico. Aperto o botão freneticamente. A voz dele surge pelo auto-falante da
máquina.
- Tá tudo
bem?
- Tá. Só
queria ver se isso aqui tava funcionando.
- Ah, OK.
Vamos começar.
O barulho
ensurdecedor começa. Minutos depois, uma voz robótica sai da máquina: “Não engula”.
Era o mesmo
que dizer “não pense num elefante”.
Cerca de
meia hora depois, a tortura termina. Sobrevivo. Visto a
roupa e pergunto à enfermeira sobre o tal do Marcos:
- Ele vai
ficar bem?
- Acho que
sim...
Saio do
laboratório e pego um táxi, ansioso por um pouco de silêncio e uma noite tranquila. O taxista
sorri:
- Tudo bem
se eu ligar a TV no Cidade Alerta?