Com meu retorno ao Brasil se aproximando, em meio a gritos de “menino, não seja bobo, fique aí que isso aqui tá terrível!”, “vem logo que o cinema aqui tá bombando e eu tô com saudade!”, e “pelamordideus me traz um iPad!”, começam as incertezas e inquietações sobre o meu futuro. Dentre elas, a dramática indecisão em relação ao que trazer de volta, o que vender, o que doar, o que comprar. Uma verdadeira escolha de Sofia.
Assim que cheguei aos EUA em 2009, fui convencido a comprar um MacBook ao invés de um PC. “Mac users become Mac pushers”, disse uma amiga... E a maldição estava lançada. Passado o primeiro mês de “por que ca&%#! eu fui comprar um computador que eu não sei usar!?”, estava completamente vendido. Passava na frente da loja da Apple, branquinha (e sempre lotada!) e ficava admirando aqueles produtos que a humanidade de alguma forma conseguiu viver sem nos últimos milhares de anos.
Dois anos depois, enquanto reviso algumas páginas de roteiro e levo meu roommate canino para passear, decido que vou comprar um iMac. “Já que eu tô aqui, né?” Comprar um iMac por aqui, porém, significa ter de transportá-lo juntamente com toda minha mudança, o que posa alguns problemas dignos de “classe média sofre”.
Começo, então, a checar qual companhia aérea tem a melhor política de bagagens. Verifico as restrições de tamanho e peso, meço a tela do computador, meço a caixa, confiro novamente os valores pra ver se vale mesmo a pena. Checo as especificações técnicas, vou a outra loja, meço a caixa de novo e, enfim, chego a uma conclusão bombástica: eu não preciso de um computador novo.
Meu MacBook (esse mesmo que você tá vendo de pano de fundo!) funciona perfeitamente, e se quero uma tela um pouco maior já que passo o dia na frente de uma, basta ligá-lo à minha sub-utilizada TV e voilá! Ao invés de um computador novo, compro um teclado, um trackpad (ah, o trackpad...), atualizo o software, expando a memória e, por menos de um quinto do preço, tenho o desktop que eu precisava queria, sem a encheção de ter que ficar sincronizando arquivos de computadores diferentes e, é claro, sem ter que trazer o trambolho no avião.
Foi então que percebi quantas coisas eu não preciso. Estando em um país em que roupas, eletrônicos e afins são relativamente baratos e “só você não tem um iPhone”, é fácil cair na cilada do “já que eu tô aqui...”
Com 31 camisetas e 9 calças jeans no armário, eu não preciso de mais roupa, mesmo que seja um pacote de 3 por 19,90. Eu também não preciso um iPad. (Por mais que possa garimpar utilidades pra ele, não há viv'alma que me convença de que aquilo é essencial pra alguma coisa. Pode ser “muito louco”, “irado”, “da hora, velho”, mas essencial, não é.)
Com 31 camisetas e 9 calças jeans no armário, eu não preciso de mais roupa, mesmo que seja um pacote de 3 por 19,90. Eu também não preciso um iPad. (Por mais que possa garimpar utilidades pra ele, não há viv'alma que me convença de que aquilo é essencial pra alguma coisa. Pode ser “muito louco”, “irado”, “da hora, velho”, mas essencial, não é.)
Praticar o desapego não é nada fácil, mas nada melhor do que uma mudança transcontinental e taxas de três dígitos para cada mala extra pra te dar uma forcinha. O problema é que do outro lado da balança tem uma loja da Apple, novinha, com lançamentos disfarçados de produtos de necessidade básica implorando para serem comprados. Não é à toa que o símbolo deles é uma maçã.