Estar em Hollywood durante o Oscar pode parecer incrível, mas tirando o fato de que a cerimônia acaba às 8h da noite e não à 1h da manhã, pouca coisa muda.
Um dia antes, resolvi dar uma de turista e fui dar uma volta na frente do Kodak Theater. Advinha quem encontrei? Mais turistas, é claro. A Hollywood Boulevard (aquela mesma onde pego o ônibus há sete meses…) fica interditada por vários quarteirões. Muitos guardas, muitos turistas, poucos atrativos… a não ser uma estátua gigante do Oscar toda envolvida em plástico.
No dia seguinte, nos reunimos na casa de um colega – o Bob – para assistirmos à cerimônia.
- Pessoal, não fala pra fulana que eu convidei vocês! Ela perguntou se eu ia fazer alguma coisa e eu disse que não.
Qualquer semelhança com a 7a série não é mera coincidência…
Começa a cerimônia. Bob tem TiVo, assim podemos rebobinar e rir de novo com todas as piadas de Alec Baldwin e Steve Martin, que os americanos acham sensacionais. Admito que rachei o bico com algumas delas também.
Jason Reitman (Up In The Air) perde o Oscar de roteiro original para Geoffrey Fletcher (Precious). Confesso que Up in The Air é disparado meu filme favorito do ano, mas Jason Reitman perdeu toda a popularidade depois que veio dar uma palestra no AFI e “esqueceu” de mencionar que não escreveu o roteiro do filme sozinho, entre outros comentários infelizes.
Fletcher sobe ao palco para receber o prêmio. Meu roommate, que é negro, canta a bola:
- Lá vem o “slavery speech”. Por que eles sempre têm que falar sofrendo?
Dito e feito.
Pouco depois, chegam dois colegas de Bob. Eu achava que era impossível estar alheio ao mundo do cinema estando em Hollywood, principalmente em dia de Oscar… até conhecer esses dois.
- É a diretora que vai ganhar o Oscar – responde a única mulher entre nós.
- Onde é essa festa? É em Los Angeles? – pergunta o outro
- É a umas dez quadras daqui – responde Bob.
- Ah, legal.
Minutos depois, eles partem, entediados.
El Secreto de Sus Ojos surpreende e dá a Argentina o Oscar de melhor filme estrangeiro. Estou louco pra o ver filme (na verdade, assisto a qualquer coisa de Juan José Campanella ou com Ricardo Darín). O filme não estreou por aqui ainda, e só pra me provocar, meu outro roommate (argentino) tem o DVD original do filme... que não roda aqui nos EUA.
Mark Boal ganha o Oscar de melhor roteiro original por The Hurt Locker. Embora todos ao meu redor sejam fãs do filme (eu nem tanto), Mark Boal também não era a figura mais carismática do painel de roteiristas ao qual havíamos comparecido algumas semanas antes no WGA. Os comentários de “Espero que você ganhe, Mark!” vindos do público, também não aumentaram sua popularidade, uma vez que Alessandro Camon, indicado ao Oscar por The Messenger na mesma categoria, sentava-se ao seu lado.
Kathryn Bigelow confirma as espectativas e leva o Oscar de melhor diretora, minutos antes de arrebatar o Oscar de melhor filme. Os americanos a minha volta ficam satisfeitíssimos. Minha vida permance a mesma.
Bob nos leva para mais um tour em seu prédio, onde foram filmados episódios de 24, Heroes, entre outras séries. Explica também o motivo de pagar um aluguel tão baixo por seu apartamento: a moradora anterior suicidou-se ali mesmo. Legal!
Volto pra casa. Ainda é cedo, tenho páginas para entregar na segunda-feira. Sabe como é, vida normal. Até que no dia seguinte vou almoçar, estaciono carro e uma pessoa me chama a atenção, sentada na mesinha da calçada. “Conheço essa mulher”, penso.