Pense na última pessoa com quem você se comunicou.
A menos que ela estivesse na sua frente, é provável que você tenha
mandando um e-mail, uma mensagem no WhatsApp, marcado em algo no Instagram; pode
ter sido um post no Twitter para ninguém em específico, um textão no Facebook,
um áudio de oito minutos ou um meme de oito palavras. Seja qual for o formato,
acho fascinante observar a agilidade com que a nossa comunicação se transforma.
Há pouco tempo, meu pai, de 88 anos, gravou um vídeo para enviar à sua
irmã, de 91, que mora na Itália. “Onde eu nasci não tinha luz elétrica. Não me
conformo como as coisas são tão fáceis hoje...”
Por outro lado, como alguém que tem as palavras como parte fundamental
da profissão, confesso que acho um pouco assustador como a agilidade na
comunicação vai assassinando a Língua Portuguesa. É como se vírgulas fossem
sempre opcionais, assim como O Uso Da caixa ALTA, e como se todos os acentos
tivessem desaparecido com a “regra nova”: aquela instituída na década passada.
Isso sem falar nas abreviaturas e nas trocas aleatórias de letras (pq essa diskriminassaum c/ a letra C?).
Outro dia minha sobrinha tirava sarro da minha irmã, que não tinha
entendido uma mensagem:
- Como assim você não sabe o que é ttyl? Você precisa aprender a mandar
mensagem de texto.
- E você precisa aprender Português...
- O que vocês estão estudando em Língua Portuguesa na escola? –
perguntei.
- Ah, aquela coisa de adjunto adverbial, complemento nominal... Sei lá.
- Aprende direito o Português porque isso vai fazer muita diferença na
sua vida, seja lá qual for a sua carreira – aconselhei eu.
- Eu vou morar fora, não faz diferença – devolveu, com a sagacidade de uma
geração que já nasceu conectada. Se isso fosse uma mensagem, minha resposta seria
um emoji sarcástico.
Mas de todas as maneiras que interagimos atualmente, a que mais me faz
refletir são os áudios do WhatsApp. Graças a eles, posso almoçar
acompanhado de alguém que está no Canadá ou dirigir como se houvesse alguém no
banco do passageiro. Se me dissessem há cinco anos que uma das formas mais
comuns de comunicação no futuro seria o equivalente a uma troca de recados na
caixa postal, eu daria risada. Tudo o que nos esforçamos no passado para ser
instantâneo, agora submete-se ao tempo do outro: vou ouvir o que você tem a
dizer no momento que EU quiser. “Como assim fulando está me ligando?!”
Uma eterna discussão pode surgir acerca do efeito dessa forma de
comunicação entre as pessoas, mas uma coisa me parece certa: ela está nos
forçando a ouvir. Quando recebo uma mensagem de áudio, não posso interromper a
fala do outro, não posso direcionar seu pensamento, não posso julgar com o
olhar: só o que posso fazer é escutar, é respeitar seu ritmo de fala e
pensamento para só então me posicionar.
E isso é indiscutivelmente um grande presente da tecnologia.
Meu companheiro de almoço. |