Eu estava de terno, com um copo na
mão, em meio a alguns amigos e muitos desconhecidos. Quem estava prestes a
entrar era apenas uma amiga, mas eu estava ansioso. Um a um, os formandos eram anunciados, seus nomes apareciam em grandes letras no telão e os
convidados explodiam em aplausos. Éramos centenas, celebrando as conquistas de
outra centena. “Quão especiais aquelas pessoas estariam se sentindo”, pensei.
E pensei também em quantas pessoas
jamais sentiriam aquilo. Jamais teriam um dia – qualquer dia – voltado para
elas, dedicado a elas, pensado para elas; naqueles que não se formam, ou não se
casam, ou sequer celebram seus aniversários; que não têm um dia só para eles. Naqueles
que jamais recebem aplausos.
Por um lado, pensei como é
fundamental celebrar o outro, fazê-lo reconhecer a dignidade que lhe é própria
e que ninguém tira.
Por outro, pensei como por vezes
celebramos as coisas erradas. Likes, views, shares, promoções, prêmios... “O
mais ...!” “O maior ...!” “O melhor ...!”
Com quem estamos competindo? Por que
estamos competindo? Estamos sempre correndo... em direção aonde? Onde queremos
chegar?
Recentemente, duas pessoas chegaram
ao fim da linha. Desta linha.
Uma, aos 100 anos, celebrou e
celebrou tudo o que tinha a celebrar. Viveu num mundo sem Facebook, sem
seguidores no Instagram, sem bônus no fim do ano, mas cheio de celebrações.
Jogou scopa, briscola e buraco com os netos, comemorou Natal e Ano Novo com a
família, foi à missa aos domingos, foi à terra natal quando teve vontade. Até
que, enfim, descansou.
O outro, aos 30, viveu no país das
oportunidades, num mundo onde tudo é possível, onde tudo está ao alcance. Mas
não alcançou o que buscava. Até que, enfim, cansou de buscar e decidiu que não
tinha mais o que celebrar.
Drasticamente diferentes, os dois
episódios me fizeram refletir sobre a celebração do fim da nossa jornada por
aqui. “Você não iria querer ver todas as pessoas que você ama reunidas na
tristeza, chorando por você”, disse o padre durante o velório. “Vamos celebrar
o agora, vamos nos alegrar com esta nova etapa que começa, não chorar pela
que acaba.”
Cada uma a sua maneira, com uma visão
clara ou com lentes turvas, essas duas vidas encararam o fim desta etapa como
uma grande celebração, como uma mãe que dá à luz um filho: não choraram pela
grávida que deixa de ser, mas celebraram, por escolha ou destino, a nova vida
que agora é.
"O Pequeno Príncipe" - Antoine de Saint-Exupéry |