Há algumas
semanas, após nove temporadas, a série americana “The Office” chegou ao fim.
E daí?
De fato,
isso faz pouquíssima diferença na vida da vasta maioria da população humana,
mas para este ponto insignificante do universo – eu – isso teve, sim, uma considerável
relevância.
Explico.
Comecei a
assistir a “The Office” em meados de 2009, quatro anos depois de sua estreia. Cheguei
atrasado à festa. Ainda assim, logo estava enturmado e me divertindo com todos
os outros.
Quem me
apresentou à série foi Logan, meu colega do AFI - o mesmo que se
tornaria meu melhor amigo. Não recordo bem como, mas sei que de repente tinha
em mãos seus DVDs, com todas as primeiras temporadas.
Foi numa
segunda-feira qualquer de setembro, deitado na cama, “The Office” na tela do
laptop, que me dei conta de como estava fascinado com as pequenas coisas do meu
novo dia-a-dia na ainda desconhecida cidade de Los Angeles. Olhei pra trás e
percebi que o dia não havia me trazido nada de extraordinário: aula,
supermercado, lavanderia, talvez um almoço com os amigos, e uma noite tranquila
com Michael, Pam, Jim, Dwight e companhia.
Ali me dei
conta pela primeira vez de que não precisava de muito.
Em
dezembro, voltei de férias ao Brasil e “The Office” veio comigo no avião. Aquela
viagem pela qual eu esperava tanto durante as primeiras semanas nos EUA já não
se fazia tão necessária agora que até lavar a roupa parecia especial.
Angela,
Kelly, Toby, Creed me fizeram companhia naquelas semanas no Brasil; me
lembravam da boa rotina que me aguardava no retorno aos EUA.
Seis meses
depois, Logan e eu já éramos roommates. Assim como a daqueles personagens,
minha rotina também mudava com a constante entrada e saída de novas figuras.
Assistir à "The Office" servidos de pizza, pipoca, taquitos ou qualquer que fosse o menu da
noite – e com Lebowski latindo aos carros na rua – passou a ser rotineiro na
nossa semana. Também passaram a ser rotineiros os jogos de tênis aos domingos,
filmes no multiplex ao lado nas noites livres, comida japonesa entre uma aula e
outra.
Em 2011,
assim como Steve Carell, me despedi daqueles que tinham sido personagens
importantes do meu dia-a-dia, da minha história. Voltei ao Brasil e algum tempo
se passou até que conseguisse criar uma nova rotina e voltar a acompanhar o
dia-a-dia de Oscar, Andy, Erin, Phyllis – agora do meu antigo quarto, já sem pizzas do
Papa John’s ou Lebowski correndo aos meus pés.
Mais um ano
– e uma temporada – se passaram até que fui morar sozinho. Aos poucos, fui
recuperando o fascínio daquela segunda-feira de setembro, em que cozinhar e
limpar a casa transformaram-se em exemplo da mais pura felicidade.
Aí veio o
último episódio de “The Office”. Era hora de vê-los na tela de forma inédita
pela última vez. Não eram apenas personagens de um vídeo de YouTube, que eu
conhecera três minutos antes, ou mesmo de um filme, apresentados cem minutos
atrás: eram personagens que eu havia acompanhado por quatro anos, que haviam
marcado momentos incríveis do meu dia-a-dia; personagens que tinham seus dias
documentados como se fossem os mais importantes de suas vidas; personagens criados
por pessoas que, assim como eu, um dia tiveram o sonho de dar vida a criaturas
que só existiam em suas mentes.
Ao final do episódio, Pam se pergunta: Por que alguém escolheria uma empresa de papel
absolutamente comum para ser o tema de um documentário?
Era como se
me perguntasse: Por que alguém escolheria as atividades mais comuns do
dia-a-dia como o ponto alto de uma viagem, de uma época, de uma vida?
Na última
frase de toda série, ela mesma dá a resposta:
“Existe
muita beleza nas coisas mundanas. Não é mais ou menos esse o ponto?”