Logo que cheguei ao AFI, em Los Angeles, Carl
Smith, o responsável pelos estudantes estrangeiros, mencionou que não havia
outros brasileiros na turma – nem na minha, nem na anterior – mas disse que um
brasileiro havia se formado dois anos antes na disciplina de produção.
Conheci Daniel algumas semanas depois. De
passagem pelo campus, Daniel me contou que já morava em Los Angeles havia algum
tempo e que sua vida era lá – não pretendia voltar ao Brasil tão cedo. Conversamos
brevemente sobre os projetos que ele, como todo bom produtor, tentava a todo
custo tirar do papel, sem saber onde aquilo tudo iria dar.
Antes de nos despedirmos, recomendou que eu
assistisse a “District 9” no Chinese Theater. “O filme é excelente e é uma
ótima chance de você conhecer o Chinese Theater. A gente que mora aqui vai
deixando tudo pra depois e acaba não indo”.
Daniel estava duplamente correto: o filme
era excelente e foi indicado a 4 Oscars no ano seguinte. E eu fui deixando pra
depois e jamais cheguei a ver um filme no Chinese Theater.
Mais de três anos depois, já de volta ao
Brasil, fui convidado por meu produtor a assistir ao filme de abertura da
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Acabei sentando ao lado de uma colega que
não via há nove anos, mas as coincidências não parariam por ali: feitas as
apresentações iniciais da Diretora da Mostra, do Prefeito e da Ministra da
Cultura, uma voz conhecida subiu ao palco.
“Eu conheço esse cara! Ele estudou no
AFI!”, comentei animado com meu produtor, enquanto Daniel apresentava seu filme
a uma plateia de mais de 700 pessoas que se divertiam com seus comentários bem-humorados
sobre o diretor e o ator principal, que não puderam estar presentes, e sobre
como um brasileiro virou o produtor de um filme chileno.
Na festa que seguiu a sessão,
Daniel era a figura mais cobiçada do evento, mas tive a chance de parabenizá-lo
brevemente pelo filme. “Eu conheço você,” foi a vez dele dizer, “mas não lembro
de onde!” “Do AFI,” respondi.
Perguntei a ele como havia chegado até ali.
Ele disse que sua experiência havia sido incrível. Que com muito trabalho o
filme havia saído do papel, chegado aos festivais, sido exibido em Cannes e agora
estava ali. “É um sonho...”
Nos despedimos e ele seguiu adiante para
cumprimentar mais convidados, ávidos por uma palavra sua, sem saber que seu
sonho estava apenas começando.
O filme de Daniel Dreifuss, “No”, estrelado
por Gael García Bernal, acaba de ser indicado ao Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro.