“Meu deus, já faz 10 anos!” foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando me lembrei de que hoje é dia 11 de setembro. Com você também foi assim? Uma década! Loucura, não?
Depois me lembrei de uma garota que fazia boxe comigo e que fazia aniversário dia 11 de setembro. “Mancada, estragaram seu aniversário!” Tá certo, é uma p*** falta de sensibilidade pensar assim, mas... poxa, é seu aniversário. Todo ano! Não podiam ter esperado um dia a mais? Agora você vai sempre se sentir culpada por estar feliz no seu dia, fazer o quê!
Aí comecei a pensar que praticamente todo mundo se lembra do que estava fazendo quando ficou sabendo do atentado. Interessante pensar que existe um dia na linha do tempo em que gente do mundo todo se lembra do que estava fazendo. Não lembro o que fiz no dia 9, no dia 10, ou no dia 23, mas me lembro muito bem do dia 11. E assim como eu, todo mundo tem a sua história do 11 do setembro.
A minha começou na aula de biologia do 3º colegial. Em um mundo pré-smartphones, alguém recebeu uma ligação dizendo que “parece que um avião bateu num prédio nos EUA.” Algumas horas depois estava em casa, assistindo pela primeira vez àquelas imagens que veria 387 vezes mais no ainda inexistente YouTube. Era realmente como assistir a um filme de Hollywood. No dia seguinte, na escola, todos expressavam suas teorias, calcadas em nossos profundos 17 anos de experiência de vida, sem saber os efeitos que aquele evento realmente teria no mundo (e naquela viagem de American Airlines pra Disney.)
Passados meses, anos, muito ainda se ouvia sobre aquele que muitos ainda chamam de “o evento mais trágico do últimos tempos.” Aí, assim como eu, muitos começaram a ficar um pouco irritados. “Tem gente morrendo o tempo todo! Vocês, americanos, provavelmente estão matando muito mais gente em algum lugar do mundo por um pouquinho de petróleo ou algo assim. Algum povo africano está sendo dizimado e ninguém tá sabendo, ninguém tá vendo na TV, e ninguém vai lembrar o que fez naquele dia. Precisa falar do “nine eleven” o tempo todo?”
Até que em dezembro passado fui a Nova York pela primeira vez, e só então comecei a entender o peso daquele evento.
Ground Zero |
O skyline de Manhattan é um dos cartões postais da cidade e, portanto, simplesmente olhar para aqueles prédios era uma atração turística... que agora não existe. No passeio de barco que fiz ao redor da ilha, o guia descrevia a cada curva onde estariam as torres, deprimindo todos a bordo. Um dia, saindo do metrô, ouvi alguém comentando: “Sem as torres, nunca sei direito pra que lado tenho que ir”.
Teria sido diferente se houvessem destruído uma escola térrea com 5.000 crianças inocentes. Seria terrível, sem dúvida, mas o turista passeando pelo Hudson River não se lembraria disso na sua rápida visita pela cidade; o executivo saindo do metrô não se lembraria disso ao procurar uma rua; o casal de namorados não se lembraria disso ao assistir qualquer um dos milhares de filmes que se passam em Nova York, e provavelmente não se depararia com imagens e vídeos do ataque na internet, vistos de 47 ângulos diferentes.
Era praticamente impossível não ver as torres gêmeas em Manhattan. Agora, é praticamente impossível não ver a sua ausência. É como se os americanos acordassem todas as manhãs e fossem atingidos pela mesma tragédia ao olhar pela janela. E nesse sentido, consigo entender como o 11 de setembro pode ser visto como o evento mais trágico dos últimos tempos.