Ryan é um dos meus colegas do curso. Tem 29 anos, embora pareça bem mais velho. De cara, achei que nos daríamos bem, não sei bem porquê. Logo conheci sua quase-esposa, Lauren, e juntos, começaram a me arrastar por Los Angeles.
- A gente não bebe, é uma saco ficar indo em bar toda hora. Por isso a gente procura uns restaurantes mais bacanas ou uns eventos diferentes – explicam.
Ir à exibição mensal de “The Room” (2003) é um desses eventos. O filme, considerado por muitos o pior filme de todos os tempos, é exibido em uma rede de cinemas todo o último sábado do mês, há cinco anos. E sempre lota.
O ator/diretor/produtor/roteirista/editor/operador-de-microfone, Tommy Wiseau, sempre comparece para apresentar o filme. Durante a exibição, a plateia – muitas vezes vestida como os personagens do filme - grita, pula, xinga e arremessa colheres de plástico na tela. É melhor que 3D!
Seguindo a mesma linha, Ryan e Lauren me levaram à exibição dupla de “Troll 2” (1990) e do documentário “Best Worst Movie”, feito 19 anos depois pelo ator-(então)-mirim do filme. Ele e o protagonista do filme (que na verdade é dentista!) compareceram à exibição para um Q&A com a plateia. Ryan, Lauren a todos que nos acompanhavam acharam tudo muito engraçado. Confesso que achei o documentário um pouco deprimente…
- Como assim, deprimente? – pergunta meu amigo.
- Ah, sei lá, o cara é dentista há 30 anos, e ficam fazendo ele viver e reviver esse filme mega-fracasso até hoje como se fosse o ponto alto da vida dele – justifico.
- Ele provavelmente está melhor que você!
Ainda na linha “tiração de sarro”, Ryan e Lauren me arrastam para a peça “Point Break Live!”, uma versão satirizada – e muito interativa! – do filme “Caçadores de Emoção”(1991), onde o personagem de Keanu Reeves – Johnny Utah – é selecionado na plateia. Não sei o que foi melhor: as piadas afiadas, os banhos de água, os banhos de sangue, ou o fato de John Terry (o pai de Jack em “Lost”) estar sentado ao nosso lado na plateia.
Ryan e Lauren também são fanáticos por música, e sempre me arrastam para shows. Literalemente.
- Comprei um ingresso pra você para o show do RJD2. Você me deve 25 dólares.
- Quem é esse???
Foi assim que fui ao El Rey, a casa de shows mais antiga de Los Angeles. E foi assim que descobri que eu curto RJD2. Da mesma forma, conheci o Music Box, onde ouvi pela primeira vez a banda Broken Bells.
Recentemente após uma discussão entre Ryan e Lauren pra decidir quem é mais fã de Plants & Animals, fui convencido a ir a um show deles, no El Trobadour, onde ficamos literalmente a um metro do palco.
A banda de abertura – Lost in The Trees – foi um surpresa à parte. Juro que a banda de seis integrantes toca mais de 20 instrumentos, e metade deles eu nunca ouvi falar.
Hoje, depois de copiar o HD do Ryan, tenho 20 novos gigas de música (além de uma cópia do filme “Eliott”, um spin-off do filme ET, considerado o pior curta produzido no AFI esse ano.)
Agora Ryan e Lauren (entre outros!) têm o plano de me americanizar fazendo com que eu assista ao que eles consideram melhores comédias lançadas nos útimos anos – um conceito no mínimo subjetivo…
Lauren parece estar melhor de saúde. Depois de ter passado por uma cirurgia no cérebro e uma para a retirada do baço no passado, esteve o mês de maio inteiro internada com um problema no pâncreas, que ninguém consegue identificar. Passou mais de um mês sem alimentos de verdade e foi à metade dos eventos mencionados usando um tubo de alimentação.
Ryan, que foi preso duas vezes, esteve à beira da morte e foi internado em uma clínica de reabilitação, não usa drogas há mais de 3 anos.